Nos tempos da faculdade, tive uma professora de Sociologia que dizia gostar de ler a biografia dos grandes pensadores, porque a partir da vida de cada um, era possível entender melhor suas obras.
Concordo plenamente, pois damos sentido ao mundo partindo de nossas experiências, do que nos é familiar. Mesmo para chegar ao novo, o ponto de partida é o conhecido e esta afirmação serve tanto para aqueles que deixaram sua marca na História, como para nós, pobres mortais.
Eu, por exemplo, tenho claro o quanto o fato de ter mãe e o fato de ser mãe influenciaram em minhas escolhas: sou professora como minha mãe foi, busquei atividades que privilegiam o cuidado e o envolvimento com crianças e adultos de um modo geral, tenho evitado compromissos profissionais que me tomem grande parte do tempo e me impeçam de exercer a deliciosa tarefa de lamber e educar minhas crias.
“Bem, mãe todo mundo tem! Até aí você não falou nada!” __ protestarão alguns. Acalmai-vos! É justamente neste ponto que eu quero chegar: a marca singular e perene que esta primeira ligação afetiva deixa em todos nós. Nem aqueles que viveram a ausência física e/ou psicológica da mãe escapam deste caminho certo. Em se tratando de mãe, a ausência é tão marcante quanto a presença. Aliás, sofrer de falta de mãe deve ser uma das piores dores.
Para mim, mãe é uma força da natureza. Para o bem e para o mal. Os psicoterapeutas que o digam. Ninguém passa em brancas nuvens por uma mãe. E nenhuma mulher é a mesma depois de ser mãe.
Vejam alguns exemplos desta relação tão vívida: a pop star Madonna (que tem o mesmo nome da mãe) já afirmou várias vezes que a morte materna prematura _ a pequena Madonna tinha 5 anos _ teve uma forte relação com sua necessidade de se destacar, de se afirmar. Sócrates, o grande filósofo que dizia saber que nada sabia, tinha como método perguntar, perguntar até que o interlocutor chegasse às suas próprias conclusões. Seu método chamava-se maiêutica ou parto das idéias, em clara referência à sua mãe que era... parteira! Henfil, jornalista e cartunista, dizia que quem tem mãe não tem medo. A não ser da própria... Nos contos de fadas, as mães, que morrem cedo e suas arquiinimigas, as madrastas, povoam o imaginário infantil e são um campo fértil para projeções de amor e ódio. Por fim, assistindo ao Rock in Rio, ouço Ivete Sangalo, cantora consagrada, admirada, dizer para quem quisesse ouvir: “Meu filho, a mamãe nasceu para te esperar!” . Precisa mais?
Por tudo dito e exposto aqui, afirmo que o tema maternidade sempre me interessou muito e não por acaso foi ele o norteador da escolha das histórias do meu espetáculo “De Mãe Para Filho __ Histórias de vários países que têm em comum o amor de mãe”, que vai estrear dia 12 de outubro, dia das Crianças, no SESC Tijuca. Data melhor que esta, só o dia das Mães.
No espetáculo, conto histórias da Tradição Oral da Nigéria, Rússia, Brasil, Portugal, Grécia e Paquistão. Em cada história, uma faceta do universo materno: a mãe sempre presente, mesmo na ausência; a mãe que dá a vida pelos filhos, a mãe que dribla as dificuldades com humor e esperteza; a mãe que sabe a hora de agir; a mãe que não aceita que os filhos cresçam; a mãe que não se intimida com nada nem com ninguém na defesa do filho. Não lhes parecem familiares?
A idéia é essa: que quem for assistir à peça, se reconheça ou reconheça sua mãe em uma ou mais daquelas mães, que ria e se emocione com as histórias e que seja tocado pela força do amor materno, diante do qual todos os temores se apagam e tudo o que é justo e bom está fadado a frutificar.
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